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Eu não me lembro II

Por Dan Cilva

Acredito ser algo em torno de umas dez horas quando avisto algumas casas ladeadas por cercas e arame farpado.
As cigarras enfeitam o ar com seu som tipico e o cheiro de café fresco me atrai até a entrada de uma das pequenas moradias ali presentes. 

Pouco antes de bater a porta, a mesma se abriu. Quem me atendeu foi uma pequena senhora, aparentava beirar os noventa anos. Eu a encarava desconfiado o que de certo tornou difícil uma abordagem mais amistosa. Foi a mesma que logo perguntou de onde vinha e se eu estava bem.

Apos me acolher e me permitir o banho, poderíamos ter uma conversa civilizada

Já livre de minhas vestes, cada gota que caia sobre meu corpo o relaxava trazendo uma sensação de profunda segurança. Bem ao fundo do som das gotas de água caindo no fundo da banheira e do chuveiro fervendo a água acima de mim, ouvia singelas notas tiradas de um sino de vento pendurado em alguma janela. 

Tudo aquilo estava muito bom, mas como explicaria para a senhora o que havia se passado comigo na noite anterior? Como dizer a ela que fui perseguido por algo não humano e que apenas uma velha capela me protegeu da morte certa?

Engraçado como algumas pessoas de idade conseguem ser tão silenciosas. Desliguei a água, fui me secar e reparei que sobre a tampa da privada estava uma muda de roupa. 

Novamente guiado pelo cheiro de café quente cheguei até a cozinha onde havia no centro da mesma uma mesa com quatro cadeiras,  café no bule azul e pão caseiro acompanhado de uma roda de queijo bem amarelinho.

A velha senhora me observava sentada na cadeira de frente para mim. Havia um sorriso nostálgico em seu rosto, por alguma razão aquilo me confortava ainda mais. Apos insistir que eu me sentasse e combinar os alimentos postos a mesa, comi se não houvesse visto comida há dias...

- Ele está atras de você!

Quando estas palavras saíram da boca dela, um arrepio profundo me percorreu me trazendo de volta a realidade. 

- Como a senhora sabe?

Foi quando notei um estranho simbolo tatuado na parte interna do pulso da minha acolhedora.

- O que fizeram com você, meu filho, é muito forte...

Bateram a porta, assim sem pressa. A senhoria levantou e com um gesto pediu que eu esperasse sentado, que a conversa que tínhamos era de suma importância. 

Foi quando saiu da cozinha que uma sensação de urgência me tomou, eu precisava sair dali.
Levantei as pressas tentando fazer o minimo de barulho, esgueirando pelos cantos logo atras da senhora que vi quem estava a porta.

O coveiro estava em pé, ali do lado de fora, mudo, parado sobre os dois pés sujos de terra preta. Trazia sobre os ombros uma pesada pá e na cabeça um velho chapéu. Nenhum dos dois disse uma palavra, logo então a velha senhora bateu a porta e me guiou de volta para a cozinha.

-Ele não pode entrar, não foi convidado.

Eu não entendia nada nem mesmo o que ela fazia ao apagar as luzes e fechar as janelas. Logo limpou a mesa e eu só a observar sem piscar uma vez sequer. Logo que voltou, deixou sobre a mesa uma velha caixa de sapatos de onde tirou um surrado baralho de tarô. Acendeu uma vela ao centro da mesa, foi quando notei o profundo azul de seus olhos.

- Há um fardo muito grande e urgente sobre seus ombros. Agora que você está visível para o demônio, ele vai te caçar até o fim dos seus dias.

As vezes quando não entendemos algo, um riso desconcertado aparece em nosso rosto, uma tentativa frívola de quebrar a seriedade de um momento difícil. 

- Antes de prosseguir, gostaria de me apresentar. Meu nome é Agatha... (continua)




  

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