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O Monstro


Ardia muito... os pregos em meus braços, em minhas mãos. 
Lembro entre respiros o momento que eu fui arrastado pelas ruas 
por meia dúzia de sacerdotes. As vozes zuniam ao fundo 
com discursos de ódio "matem o monstro!".

Eu sou o monstro...

Naqueles dias em que meu mundo se revestiu de sangue e 
desejo por sangue, onde meus pais foram tirados deste mundo 
pelas mãos de meu avô. Tudo o que eu queria era encontra-lo e 
foi isso que me fez vagar de guerra em guerra atrás de Vitorius. 

Minha visão se perde em meio a escuridão e nela vejo pessoas, 
ouço essas mesmas pessoas em seus grunhidos disformes. 
Estou cansado, é vazio aqui dentro. 
Tem espaço demais para toda essa ira aqui dentro.

Não sinto as pontas dos meus dedos...

Baixei minha cabeça com o peso dos meus devaneios. 
Algo se arrastou por entre as pedras, 
era possível sentir sua respiração ofegante.

Eu estava cansado e via toda sorte de imagens terríveis 
pairando em minha mente e dentre estas viagens havia uma que 
acabou se repetindo por uma eternidade de tempo.

Eles estavam andando com seus longos trajes brancos e 
em suas mãos levavam velas acesas. 
Suas feições fantasmagóricas pairavam por corredores obscuros 
ladeados por quadros e vasta prataria, pareciam procurar algo. 
Escutei um som pesado de madeira rompendo a escuridão.

Um deles sumiu e os outros andavam mais rápido agora desesperados.
Era possível ouvir a palavra "monstro" sussurrada no meio da noite.