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Eu não me lembro III


De certo minha atenção ao coveiro do lado de fora da casa me distraia aos gestos estranhos que Agatha fazia com suas cartas e nem sequer reparei no tempo que levou para que as únicas luzes ali vinham oriundas de velas e dos olhos azuis da velha cartomante.

Havia na mesa um copo de vidro com água até a metade, três partes das cartas que Agatha embaralhava suavemente. Sem falar nada ela simplesmente vai jogando uma a uma com o olhar fixo em cada qual. 

-Sentença... Queda... Inferno... hum.

Algo se revolta em meu estomago e sinto o mundo girar. Coisas neste mundo tomam formas abstratas para nos dar luz de algumas descrenças alarmantes sobre nos mesmos.

Caí sobre meus joelhos e minha ultima refeição tendia a voltar ao mundo. Meus olhos se apertavam em lágrimas que não queria derramar. Agatha olhou para mim sem levantar de onde estava, continuou a virar as mensagens na mesa.

A chama das velas brilhavam intensamente quando um turbilhão de imagens passou desenfreado em minha mente. 

-Oh Deus!

Eram como fotos me fazendo relembrar e rever os ocorridos no dia do enterro do bebê...

Quanto tempo eu passei apagado? O desmaio foi seguido de uma forte pontada nas costas, nesta hora ouvia um estrondo que ecoava por toda a casa da senhora. Era meu grito... Haviam símbolos, sentia o tempo se torcer e tudo embaçar as vistas. Ouvi Agatha falar algo mas em uma língua que nunca ouvi antes... Não importa, tudo se perdeu para sempre.

Sinto as gostas apedrejarem meu rosto, meus olhos ardem com a luz, sinto o gosto da terra preta e ouço aos poucos som de choro. A cabeça dói ao levantar.

Ao redor tenho as árvores como testemunha, algumas lápides e mausoléus...
Vejo adiante um homem e uma mulher... não consigo reconhecer o homem, espere... sou eu?

Parecem não ver minha aproximação e cada passo dado eles parecem mais distantes, é quando percebo símbolos no ar. Minha cabeça dói, a mulher faz um rápido gesto de mão e levita o homem envolvendo-o com luz. Tudo se apaga, eu me lembro, sei o que fazer. Talvez ainda haja tempo.

Chamo por Agatha, escuto ecoar na escuridão enquanto me arrasto sobre meus pés. Caminho seguindo com a mão apoiada na parede ao meu lado até que começo a vislumbrar a boca de uma gruta. Deve ser de manhã. (continua)



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