Google+ Google+

Eu não me lembro IV

Por Daniel Cilva

Era de manhã quando atravessei o portão de aço retorcido envolto em densa vinha. O céu azul manchado de branco com nuvens aqui e acolá derrubava sobre as árvores uma brisa fresca. Cada passo firme meu rente ao solo deixava certo que minha memoria fragmentada ainda detinha as respostas do que deveria ter feito e partes do que houve com meu corpo. Este corpo que peguei emprestado para cumprir tal macabra tarefa. 
Seguindo pela calçada de pedras entalhadas de espadas e flores, não muito longe era possível contemplar a assombrosa arquitetura clássica de uma mansão erguida ao céu com suas pontudas torres laterais e a quantidade desconcertante de janelas. De frente a grande porta de velha madeira há um antigo chafariz desativado pelo tempo com o que parece ser uma sequencia de banheiras para pássaros. Deste ponto ainda era possível ouvir o som das copas das árvores da longa floresta de onde saí e onde se encontra encrustada a casa de Agatha, a vidente que me acolheu e destrancou-me o baú das memorias, agora resta-me montar as peças para concluir minha vinda.
Lembro de um portal, mais velho que o tempo... lembro de corredores brancos e de alguém falando comigo. Este alguém me entregava um pequeno cofre de madeira lacrado em suas bordas com placas de aço trabalhado por alquimistas. As memorias vinham e eu seguia para a porta da mansão em direção a maçaneta. Toca-la foi como levar um tiro. Algo em mim queimou por dentro e como se atropelado fui arremessado ao ar batendo forte as costas ao chão. A pele em minha mão avermelhou ao tom de sangue e cresceram bolhas na palma onde toquei na peça de metal. Quase que instintivamente lancei um gesto ao ar estendendo a palma como se pudesse agarrar a porta e como um todo, luz se projetou dos meus olhos e boca enquanto uma voz que não era minha pronunciou sons indescritíveis aqui, um relâmpago rasgou o ar e após a luz conectar por um instante minha mão a porta, veio a explosão de ar e madeira lascada e um gigantesco estrondo que poderia ser ouvido do outro lado dos quilométricos campos onde jaz este imenso mausoléu amaldiçoado.
Emergi em meio a densidade de poeira e penetrei a escuridão. Algo naquilo tudo estava me deixando irritado e desta irritação veio a coragem até mesmo para derrubar em uma briga de bar até um deus menor.
O interior da degradação ali erguida era uma prova de que o tempo tudo devora e junto com ele traz seus filhos arrependimento, soberba e memorias. Meus passos me guiaram pelo salão principal onde toda a grande estrutura era sustentada por gigantescas pilastras trabalhadas em mármore e em seu centro corria até um tipo de grande altar um longo tapete vermelho aveludado com bordas de um dourado ainda bem vivo. O altar também feito no mármore se elevava por dois degraus aproximados e sobre o mesmo havia um pequeno espelho de vidro bem sujo e de bordas afiadas trabalhadas com entalhes prateados. O que quer que eu devesse fazer ali exigia aquele espelho em meu poder. 
Por um momento tentei limpar meu reflexo na manga de minha camisa sem um mínimo sucesso era como se o desgaste estivesse apenas no reflexo e que se eu quisesse desobstruir a visão dele deveria limpar de dentro para fora...
Nada desde que minha jornada começou carrega um pingo de coerência devido a natureza e gravidade de minha ordenança, logo aqui encontro mais uma prova disso. Procurando no reflexo algum canto onde pudesse enxergar algo anormal como a maçaneta da mansão, reparei no grande retrato sobre a lareira atrás do grande altar onde encontrei o espelho.
Do meu ponto de vista o quadro retratava um homem de idade vestindo algo como um traje militar arcaico, alguém como um barão condecorado e de rosto adornado por longa barba branca. No pouco espaço que conseguia ver na superfície suja do espelho identifiquei uma mulher de densa cabeleira negra com seu vestido de gala vermelho, em ambos os casos seus olhos pareciam me fitar culposamente.
Uma ideia correu em minha mente e do mesmo modo me atirei para fora da mansão indo de encontro ao chafariz; procurando o reflexo da seca estrutura, como havia suspeitado, no mundo do espelho este adorno de jardim ainda corria água por suas camadas e num gesto de levar a mão até o fundo seco em meu mundo, vi minha palma se encher na cristalina água do reflexo e esta usei para limpar o espelho por dentro. 
Era possível agora ver os dois portais paralelos ao portão principal da mansão de onde emanavam uma fraca luz azulada. 
Se havia uma certeza depois do esclarecimento ao encontrar a vidente é de que preciso me reencontrar no fundo de minhas memorias e resgatar-me do coração de minhas ilusões. (continua) 

A Puta de Tantos Filhos


Honrem A Puta de tantos filhos.
Filhos teus, filisteus desonrosos de teta em teta A mama e sangra, 
mesmo assim, descrente da tua maldade, te recebe aberta e sincera, franca na zona.
Desmentes A Puta, nega o leite que volta e meia na garganta sobe a verdade azeda. 
Azéda a vida de cada filho Da Puta e trava com a treva cada passo de seus irmãos e 
irmãs aos quais nenhum renegado por seus atos sois todos Filhos.

Pelos, filos de cabelos enlaçados nos dedos putos, 
A Puta não nega em nada e nada na sua imundície, na sua imundície, 
na SUA imundície.
A sua...
Vida...
Subvivendo sendo cada dia um dos infinitos Filhos da Puta de algum modo, 
mesmo sem modos ou com toda elegância por vezes vestindo a carapuça ou 
despindo-se dela que volta e volta e revolta cada filho que chora ao te ouvir...

Hoje, já honrou A Puta de tantos filhos?

Contagem Agressiva (lado b)

Uma, contagem regressiva de menos dedos, menos dias, 
de mais fatos perdidos no esquecimento.
86 Bilhões de neurônios se bombardeando em relâmpagos, 
100 por segundo no planeta Terra.
5 dedos e uma Palma na cara de um atrevido.
Atrevi então contar os dias de vida, 
dias de mais, 
os anos então, 
tempo de menos.
Calculei então as voltas do nosso globo em torno de nossa estrela.
Nossa! 

Ser humano requer arrogância!
Quiçá um dia ser planta, uma forma mais natural...
Tomamos a natureza das coisas.

Das coisas tornamos escravos.

Toda mulher é uma bruxa

Por Dan Cilva

Cada mulher neste mundo já foi jogada em algum tipo de fogueira, queimando a margem do mundo dos homens, estes, inaptos e tolos que ao desconhecerem de si contemplam o poder da mulher como uma força da natureza.

Em sua arrogância, tentam dominar esse poder natural.

Cada mulher já foi levada a julgamento popular e condenada ao banimento por suas particularidades.

Cada mulher que já foi repartida de uma discussão onde não tinha voz, foi jogada nas profundezas do lago da ignorância do macho comum.

Toda mulher tem em si uma bruxa, não por serem malditas por aqueles que falam dela mas por todo o encanto que vem do fundo de suas almas. Capazes de controlar as tempestades muitas vezes criadas pelos homens inaptos.

Desculpe a presunção de dizer quem ou o que são as mulheres.

Contagem Agressiva

Por Dan Cilva

Um dia para viver
Vinte e quatro horas desgastando
Mil quatrocentos e quarenta minutos, quero morrer.
Um segundo, estou pensando.

Um nó
Duas voltas
Três vertebras partidas.
Quatro arrependimentos

Cinco vidas
Quatro falhas
Três amores
Um esquecimento.

Zero tempo
Zero chances.

Sonho

Esta noite eu era Rodrigo com mais três amigos. Planejamos nos encontrar com as meninas de carro mas no meio do caminho Amanda se perdeu da gente.

Fazia frio e chovia muito, as estradas alagadas e não havia previsão de fim do aguaceiro.
Todos nós crescemos juntos sempre nos reunindo na casa do Visconde. 

A tia, mãe do Visconde sempre cuidou de nós desde sempre.

Todos choramos quando encontramos Amanda na vala já inchada da água da chuva com marcas roxas em torno do pescoço.
Débora desmaiou em meio às lágrimas, tinha algo entre as duas muito além de uma amizade.

O assassino, eu tinho que encontrá-lo seja quem fosse, seja onde fosse...

O bem (como seria se...)

Por Dan Cilva

A quem interessar deixo este mundo sem arrependimentos.

Acredito que esta parte (dos arrependidos) fica aos cuidados de meus poucos amigos, parentes e mulher amada.

Sentado na tampa da privada, minha visão se embaralha no azulejo padronizado que reveste todo banheiro da casa dos meus pais.

Ao meu lado o espelho denuncia a vergonha da minha existência.
Minha mãe em uma de suas raras visitas disse que meu problema é falta de Deus e que tudo o que me trouxe até este momento foi porque me desviei de Seus desígnios.

Eu não tenho poder sobre nada nesta vida e o mundo inteiro me pesa. Sinto-me obrigado a ser feliz mesmo com tudo estando horrível.

Já ouvi muito que me falta vontade e que um esforço a mais seria a solução mágica de tudo e que o impossível era apenas uma questão de perspectiva quando perspectiva é o que me falta.

Bom,  recaptulando, há coisas boas no meu mundo mas não entendo a razão de tanto sofrimento e de tanto mal proveniente das pessoas. Não consigo racionalizar o mal que vem daqui de dentro e o esforço para expor de forma sutil e não destrutiva, estou tão cansado.

A quem interessar deixo este mundo sem arrependimentos.

Acredito que esta parte (dos arrependidos) fica aos cuidados de meus poucos amigos, parentes e mulher amada. 


Diamantes

Por Dan Cilva

As bocas rasgam gordos pedaços de verdades
Enfraquecendo conceitos das mentes vulgares
Diamantes não perecem, a tudo sofrem pressão

As bocas se beijam e beijam estrelas 
Para uns feitas de gás, para outras feitas de luz
Diamantes não parecem com nada que compus

As bocas que falam verdades estreitam as pontes
Derrubam muralhas e de par em par até sabe-se quando
Diamantes não esquecem nem se lembram de quem são, não o sabem

As bocas te falam mal e por vezes te traem
Plantando ideias e ideais vazios de paz e de guerra
Diamantes não temem tais bocas, apenas brilham

As bocas separadas sofrem pela propria companhia 
Sofrem também a distancia e a armadilha
Diamantes são diamantes, brilhantes naturais, materiais

As bocas dos casais de cais em cais desejam a deus
Dizem adeus e tristemente sofrem como diamantes
Diamantes somos cada boca, umas mais brutas que outras

Diamantes que se aproximam, que se separam
Que sofrem pressão por serem bocas sem sua boca
Bocas são bocas que pressionam e se impressionam com ladainhas sem fim

Diamantes são paralelos por seu brilho eterno
Marcando sorrisos em bocas cheias de brilho
Bocas de sorrisos brilhantes e eternos 

De quem sofre pressão todos os dias.

O mal

"Você acredita no mal?"
Esta pergunta me foi feita por um estranho no balcão de um bar sujo de um canto sujo de uma cidade cheia de imundícia.

"Acredito no Homem e todas as merdas que é capaz de fazer"
Mais um gole subiu no copo é desceu a goela tamborilando e queimando garganta a baixo e lá no escuro das minhas entranhas senti um pouco de conforto subindo para a cabeça.

"Mais uma, eu pago" disse o estranho.
Por pior que me tornasse ao beber, cada gota tornava em mim uma noção cada vez mais apurada do mundo.

"O mal... é este mundo de promessas fáceis e arrependimentos derramados nos ouvidos alheios"
Já havíamos secado uma garrafa de whisky barato quando notei que apenas nos três restamos naquela madrugada, eu, o estranho e o dono do bar.

"É hora de ir" eu disse.
As notas amassadas sobre a madeira velha do bar pagavam bebidas e gorjeta ao barman. Meus pés tentavam se acertar um após o outro já me levando pela rua molhada daquele fim de noite.

As luzes estouraram por entre as espaçadas gotas de chuva que caiam uma a uma. As pernas moles e um relaxamento mental não me permitiu perceber quando cheguei em casa.

Minha noção e tolice distanciaran-se enquanto as chaves tilintavam no momento que girava uma delas na fechadura da porta. A madeira do meu piso rangiu mas eu não dei nenhum passo. Minha casa de dois andares era do tipo antiga e teimosa resistindo a duas guerras e toda a linhagem medíocre de minha família e toda sua luz, naquele instante ela estava escura. Os interruptores apenas clicavam de cima para baixo e repeti o gesto na gola esperança de banir a escuridão, cúmplice de sons e formas advindas de infernos criados por uma mente maliciosa irrigada com álcool vulgar.

Sabia que morava só é que havia um roteiro da casa que não se modificada, era silenciosa e grande suficientemente para alimentar a solidão.

Enchi-me de coragem e adentrei as trevas atrás de luz. Sabia que restava ainda alguma vela ou toco que fosse. Os dedos atrapalhados procuravam entre gavetas e objetos sem valor uma fonte de luz qualquer. Sentia atrás de mim a treva que engordava e crescia em tamanho e força e cada demônio que surgia em minha mente se aproximava mais e mais.

Encontrei por fim um esqueiro que deixou uma fraca luz por onde eu passava, mas foi suficiente para encontrar velas e espalha-las pela casa.

A água da pia de meu banheiro está gelada e fez o trabalho de me tirar o resto do efeito do álcool degustado aquela noite com um total estranho.
Por fim o sono pesou minhas pálpebras, arrastei meu corpo até a cama, uma vez deitado sob o grosso cobertor marrom deixei o sono vir mais e mais.

"Você acredita no mal?"


Essa voz tomou  para sempre o silêncio da noite e o brilho afiado cortou a noite junto a porta do meu quarto.

Tormenta

Por Dan Cilva

Quando o tempo ainda era uma criança desobediente e o Rei Violeta e as estrelas bailavam no cosmos, havia um de vários mundos assim como a Terra. 

A vida aflorava desde a forma mais simples até as sábias entidades do vento.

Foi na primavera que o coração da jovem Yumia conhecia aquilo que destruiria o seu mundo.

Jovem, sua pele era escura como a terra e seus traços bem esculpidos pela natureza. Sua mãe, Ariana, enviara Yumia ao templo da Ordem do Explendor para receber a benção do Conselho.

Todos os jovens de Lendor, quando chegavam à uma certa idade, iam até o templo para receber a benção que abriria a percepção e a aptidão de cada um. 

Yumia estava linda naquela manhã e a cerimônia, adornada de véus brancos conduzia a moça para sua Verdade. 

Durante o rito, ela entraria em uma piscina, onde flutuaria deitada na agua, de olhos fechados e depois de bruços com os olhos abertos. 

Ao sair da água Yumia foi recebida pelos anciãos do Conselho que proclamaram seu destino. A jovem era a nova Deusa da Chuva. 

Ser um Deus em Lendor não era absurdo ou blasfemo como pode imaginar. 

Muito pelo contrario, os Deuses tem a responsabilidade por manifestações de fluxo e harmonização do mundo, o cultivavam e o protegiam. 

Ariana chorou de alegria e junto com seu esposo Fildor celebraram uma festa para comemorar a posse de sua filha, a nova divindade da chuva.

Foram três dias de festa, comida e alegria em abundância. Todos ali se admiravam com a beleza e graça de Yumia.

Foi na terceira noite de festa, com os raios das luas brilhando na face dos dois jovens ocultos nos fundos da grande casa que Fenrir roubou Yumia, A Deusa da Chuva.

E houve chuva aquela madrugada. 

Os dias se passaram e ficava evidente aos olhos de seus pais o abatimento da jovem Deusa. Yumia deixava para esconder suas lágrimas durante os rituais onde chovia abundantemente. 


Eu não me lembro III


De certo minha atenção ao coveiro do lado de fora da casa me distraia aos gestos estranhos que Agatha fazia com suas cartas e nem sequer reparei no tempo que levou para que as únicas luzes ali vinham oriundas de velas e dos olhos azuis da velha cartomante.

Havia na mesa um copo de vidro com água até a metade, três partes das cartas que Agatha embaralhava suavemente. Sem falar nada ela simplesmente vai jogando uma a uma com o olhar fixo em cada qual. 

-Sentença... Queda... Inferno... hum.

Algo se revolta em meu estomago e sinto o mundo girar. Coisas neste mundo tomam formas abstratas para nos dar luz de algumas descrenças alarmantes sobre nos mesmos.

Caí sobre meus joelhos e minha ultima refeição tendia a voltar ao mundo. Meus olhos se apertavam em lágrimas que não queria derramar. Agatha olhou para mim sem levantar de onde estava, continuou a virar as mensagens na mesa.

A chama das velas brilhavam intensamente quando um turbilhão de imagens passou desenfreado em minha mente. 

-Oh Deus!

Eram como fotos me fazendo relembrar e rever os ocorridos no dia do enterro do bebê...

Quanto tempo eu passei apagado? O desmaio foi seguido de uma forte pontada nas costas, nesta hora ouvia um estrondo que ecoava por toda a casa da senhora. Era meu grito... Haviam símbolos, sentia o tempo se torcer e tudo embaçar as vistas. Ouvi Agatha falar algo mas em uma língua que nunca ouvi antes... Não importa, tudo se perdeu para sempre.

Sinto as gostas apedrejarem meu rosto, meus olhos ardem com a luz, sinto o gosto da terra preta e ouço aos poucos som de choro. A cabeça dói ao levantar.

Ao redor tenho as árvores como testemunha, algumas lápides e mausoléus...
Vejo adiante um homem e uma mulher... não consigo reconhecer o homem, espere... sou eu?

Parecem não ver minha aproximação e cada passo dado eles parecem mais distantes, é quando percebo símbolos no ar. Minha cabeça dói, a mulher faz um rápido gesto de mão e levita o homem envolvendo-o com luz. Tudo se apaga, eu me lembro, sei o que fazer. Talvez ainda haja tempo.

Chamo por Agatha, escuto ecoar na escuridão enquanto me arrasto sobre meus pés. Caminho seguindo com a mão apoiada na parede ao meu lado até que começo a vislumbrar a boca de uma gruta. Deve ser de manhã. (continua)



Um corpo (english version)


We passed by a body, was lying on the edge
From the world dreaming of fragile eggs
Colorful intimate truths,
Out of the world that
Screaming for help.

We passed on a body,
Ignoring all our ancestors and children.
Plucking the sugar of life,
Drinking diet coke, then having
Sweeten aspartame every solemn moment and
Sometimes the body loses itself by drinking
With his own mouth and desperate for
Just know from the mouths of other bodies
The taste of fresh water.

We buried another body
Every time we start
A skin of our found pains
From the soul and how we wear false smiles,
Invented achievements.

Have you stolen a body, where is Amarildo?
They bought a body.
Veda sold vain and village of truths violated
For vices veiled in the void.
They valued as robes and vociferated virtual truths
In red verdicts dealing with Vladimir and Veríssimo.

They struck the body,
They sought meaning in gesture and
In so many deeds so many bodies fall to the ditch.
There is no legal right to live with
The roll and the cu in the service of society
Having to give satisfactions of who they eat and for whom they give.

That body that asks for rights
To take care of your body without judgment
Of robes or which you wear,
Where you walk and who lets you play.
Survive by splashing on the world
Without permission.
Does not exist.

Freedom of life and self-respect
To knowledge. Without blame,
Without intellectual suicide,
Sentimental and even the banal.
Who only wants life and elimination of life what
A single brings the whole light
A beauty beyond the death of a body.

Querubim


 Por Dan Cilva

Amarrado a cadeira, a memória e sensação me jogaram de volta ao meu primeiro caso bizarro. Isso me deu um choque tremendo e fez meus músculos rangerem contra as cordas que me prendiam. Eu olhei em volta e cercado por seis pessoas cobertos por mantos e máscaras negras, fitei cada um, tentando encontrar em minha cabeça doída onde isso começou...

Ah sim! Foi em um bar... As piores piadas começam com alguém entrando em um bar, dessa vez não podia ser diferente e acho que alguém quis me mostrar algo mais engraçado.

Era sujo, a sentença das moscas varejeiras denunciavam os restos estomacais que umedeciam o chão. Ainda bem que estava meio escuro... O fio de sangue que escorre da minha mão me conduziu até ali e devo dizer, esse chamariz maldito já me conduziu a muitos lugares estranhos mas nenhum exalou tão escarnicioso cheiro.

Meu estômago me fez ignorar o melhor possível os presentes ali e meus pés me mantiveram discreto até o balcão onde pedi uma cerveja e extraia o máximo dos maneirismos do sujeito que me servia aquela fraca bebida. O som da tampinha ao desabraçar a boca da garrafa e cair de encontro a madeira desgastada do móvel a minha frente me levou momentaneamente para alguns lampejos em minha mente. A fina estrutura de metal soava como a cápsula de uma bala ao tilintar no chão frio. Foi a pergunta que me fez voltar tão rápido quanto fui parar nessa lembrança.

-Ei cara, qual foi a piada mais depravada que você já ouviu?

Em meio segundo de desconcerto, a água voou cristalina e sagrada de um frasco que carrego no bolso até o rosto largo e gordo do homem ao balcão. Seu rosto começou a queimar o que fez os bêbados e as prostitutas saírem desesperados em pânico. De toda aquela balbúrdia instaurada, a fumaça subia de trás do desgastado artefato de madeira. O bico de luz mal pendurado em um telhado de amianto balança formando um bailar aterrador de sombras e luz.

-Alzebias, levanta que ainda não terminei com você, praga!

Sua mão é grande e enlaça fácil meu pescoço quando olho por cima do móvel. O demônio me arremessa sobre velhas mesas de latão. Eu precisarei de um bom banho depois que terminar aqui. Alzebias olha para a luz, ela estoura. O brilho que se segue é do lume da minha arma. Uma, duas, três vezes. Entre os estalos de luz ele se projeta sobre mim. Seu peso é imensamente maior do que realmente aparenta.

-Tá precisando de uma dieta.

Com um esforço sobre humano eu rastejo e livrando-me do demônio sem muito remorso ou dificuldade aprisiono em um circulo devidamente riscado no chão, o mesmo que se torna mais asqueroso visto de perto. O lenço já de prontidão em minha boca e nariz não é suficiente para impedir a nausea.

As palavras malditas são proferidas e logo Alzebias desperta. Prontamente de joelhos diante de minha mão espalmada em sua direção, a besta fera se mostra servil. 
-Onde está Fábio?

Um corpo



Passamos por um corpo,
estava largado a beira 
do mundo sonhando em ovos frágeis, 
coloridas verdades íntimas, 
destoando do mundo que se 
encontra gritando por socorro. 

Passamos sobre um corpo, 
ignorando todos os nossos ancestrais e filhos. 
Arrancando imediatamente o açúcar da vida, 
bebendo coca diet, tendo depois que 
adoçar aspartame cada momento solene e 
por vezes o corpo se perde ao beber 
com a própria boca e desespera por 
apenas saber da boca dos outros corpos 
o sabor da água fresca. 

Soterramos mais um corpo 
cada vez que arrancamos 
a pele de nossas dores fundadas 
da alma e as vestimos com falsos sorrisos, 
inventadas conquistas. 

Roubaram aquele corpo, onde está Amarildo? 

Compraram um corpo. 
Vedete vendida vã e vila das verdades violadas 
por vícios velados no vazio. 
Valorizaram as vestes e vociferaram verdades virtuais 
em vereditos vermelhos versando Vladimir e Veríssimo. 

Escarraram no corpo, 
buscaram sentido no gesto e 
em tantos feitos outros tantos corpos caem à vala. 
Continuam sem direito legal a vida com 
a rola e o cu a serviço da sociedade 
tendo que prestar satisfações de quem comem e pra quem dão. 

Aquele corpo que pede direitos 
de cuidar de seu corpo sem julgamento 
de vestes ou que vestes, 
por onde anda e quem permite tocar. 
Sobrevive respingando precisões pelo mundo 
sem que se de permissão. 
Não precisam. 

Liberdade de viver ao respeito próprio e 
ao conhecimento. Sem se culpar, 
sem suicídio intelectual, 
sentimental e até mesmo o banal. 
Que só quer vida e deleitar da vida o que 
a mesma traz a luz, toda 
a beleza além da morte de um corpo.

Arrastado entre ideias (english version)


I caught myself crushing the stones against the face of my tormentor with such violence that I defiled the sight of any mortal or god. The blood spurted hot and spiked against the walls and my clothes making it all a scene taken from the most sordid of nightmares.

Anoir was opening his mouth, crying out begging him not to kill him.

I felt a wide smile on my face and satisfied satisfaction, and something whispered in my ear. I do not think anyone else had listened to him but he was there.

His rough touch ran over my shoulders and in the darkness of my recurring ignorance, the shadow rejoiced my fall to the vilest form of life this world has ever seen, a killer.

Yes, I killed Anoir for pleasure, it was the pieces I joined that forced me to do so.

Please do not understand that I am trying to exonerate myself from the guilt of having crushed your bones to exhaustion, with such satisfaction I must say, I explain only to observe well the being and the thing that took the north of reason away from me.

In this world there are people such as houses on a street, secrets guarded by locked doors and thin walls from where their inhabitants through windows send signs of good day, good afternoon and good night. A false attempt of communication, of coexistence that leads us to lie every day more and more.

The news soon spread among residents eager to learn of others and without letting the question cool in the sloppy notion of the populace of false confidants was where most of the children in the neighborhood went to bed?

A worn piece of clothing, some strange sounds through the walls and another child disappeared.

It was not hard to imagine.

He deserved what I did ... It was so quiet, so pleasant his silence that for this reason and many reasons stigmatized as strange and little knew or talked about it.

He was an old man in his 65 already to complete birthday.

Little did he notice when he spoke to someone, but his hoarse voice was far from his peaceful appearance.

There was a birthmark on his left wrist in the shape of a half moon and he limped half a centimeter from his left leg by a slight birth deformity that resulted in a diminutive shortening of his leg.

No one paid attention to Anoir ...

Last month he had gone to the hospital to consult about his nightmares with the ocean. It was something that made him anguish. Soon after the consultation, he went to have his coffee dripped in the bar next to the bus station that he took to return home always at 4 o'clock.

Anoir was completely inacusable ...

When the police arrived and found the evidence in his apartment, in his trash, there was no doubt about it. I even went to trial for killing you but everything was in my favor, especially the jury.

Now I can hide the bodies under the rosebush of my garden ...By Dan Cilva

I caught myself crushing the stones against the face of my tormentor with such violence that I defiled the sight of any mortal or god. The blood spurted hot and spiked against the walls and my clothes making it all a scene taken from the most sordid of nightmares.

Anoir was opening his mouth, crying out begging him not to kill him.

I felt a wide smile on my face and satisfied satisfaction, and something whispered in my ear. I do not think anyone else had listened to him but he was there.

His rough touch ran over my shoulders and in the darkness of my recurring ignorance, the shadow rejoiced my fall to the vilest form of life this world has ever seen, a killer.

Yes, I killed Anoir for pleasure, it was the pieces I joined that forced me to do so.

Please do not understand that I am trying to exonerate myself from the guilt of having crushed your bones to exhaustion, with such satisfaction I must say, I explain only to observe well the being and the thing that took the north of reason away from me.

In this world there are people such as houses on a street, secrets guarded by locked doors and thin walls from where their inhabitants through windows send signs of good day, good afternoon and good night. A false attempt of communication, of coexistence that leads us to lie every day more and more.

The news soon spread among residents eager to learn of others and without letting the question cool in the sloppy notion of the populace of false confidants was where most of the children in the neighborhood went to bed?

A worn piece of clothing, some strange sounds through the walls and another child disappeared.

It was not hard to imagine.

He deserved what I did ... It was so quiet, so pleasant his silence that for this reason and many reasons stigmatized as strange and little knew or talked about it.

He was an old man in his 65 already to complete birthday.

Little did he notice when he spoke to someone, but his hoarse voice was far from his peaceful appearance.

There was a birthmark on his left wrist in the shape of a half moon and he limped half a centimeter from his left leg by a slight birth deformity that resulted in a diminutive shortening of his leg.

No one paid attention to Anoir ...

Last month he had gone to the hospital to consult about his nightmares with the ocean. It was something that made him anguish. Soon after the consultation, he went to have his coffee dripped in the bar next to the bus station that he took to return home always at 4 o'clock.

Anoir was completely inacusable ...

When the police arrived and found the evidence in his apartment, in his trash, there was no doubt about it. I even went to trial for killing you but everything was in my favor, especially the jury.

Now I can hide the bodies under the rosebush of my garden ...

Não feche (ingles vers.)



I need to go back ...

I can not stand the tapping of the pencil against the paper of my proof. I wish I would finish this lesson soon, tomorrow I will be here again. Why do parents tell us to study every day?

I need to go back ...

When the School's signal sounded, I rushed through the door and did not even see it when I went down the steps to escape from the old steel port falling apart.

After the last step, I was waiting for one foot and then the taste of blood and asphalt mixed in my mouth. The kicks came from all sides. My skin burned and the flesh cried with each new blow.

I need to go back ... Do not close ...

Fuck! A moment to the next, and a smile on the corner of my mouth where a trickle of warm blood dripped a malicious grin. Someone among the attackers cried out for having his foot torn in two.

Do not close ...

The world was aggressive, hostile and wanted to destroy me every second. Each of the times breathe a way to keep me inside, I control. Count to ... A joke of bad taste.

He fell, I stood up among everyone who froze in fear. It was me, it's me ... A sum of the outbreak, a pain made on the floor like the blood of the guilty now fleeing. It was the end.

Resuming ...

Now there were many who surrounded the attackers, I was the monster.

The victim between the guilty looks among the young people inherited from irresponsible parents who were cowed by a system of rules of right or wrong managing monsters, generating bodies in the morgue.

A rotten crop generating rotten people that neither the fertilizer is serving. Cruel, thieving and prejudiced. Thus we are taught inheriting the hatred of our parents for the parents of others, for the children of others.

We show our worst to the modes of payment and we become. Cowards ...

Do not close ...

Escuro (ingles vers.)

By Dan Cilva


Once again he was conjured ...
The world is not beautiful and
People are false.
All this reflects on the detail of
There is the endless night of space.


Cold, like that silence
Where we swallowed the words.
It hurts the serrated teeth in the voracious mouth
Who yearns for the truth.


The irrevocable irrefutable fact that
I need you to go out again,
That walks among the living and
Seek your lies like this
As it was with Job.


Semen strips the veins of the earth and
From the eyes of the lost child inside.
Pull down my flesh robe to the ground and
Recovers a new man,
Plus a young man who must chase the old man languishing
With the now between the legs of the muse.


Shredded memories,
Together in a thin quilt of fragile memories,
Done here in some endless corner.
It turns the wheel of life and it comes, the dark.


Preaching the pain of men, the dark.
Laying their heads full of guilt in the dark.
Plunged into their futile fantasies,
Caught up in the infamous idea of ​​borderline reality, of the dark.


He shouts, wants to come up, tell everyone that there is no escape,
That even at the door of the end everything begins again ...


He comes, whispering in a multitude of voices
That everything is lost, that there is no hope.
My eyes were already swollen from crying.
By the inconceivable truth, unacceptable,
They glimpse the endless black, the cold, the profane ...
 
In the dark.

O Rejeitado (ingles vers.)


He sought compulsion, despair andA filth of the soul dried up like fountains of my life.They'll pick up the pieces of me everywhere when I'm done.
Every night, before this happened,I stood in front of the bathroom mirror of the house watching the bottomless darkness of my eyes and looked for the Rejected.
Rejected is what I call the pain that has been haunting me all these years since I remember. The first time I noticed it was when, at age 5, I asked my mother if anyone in this world loved me, she did not know the responder.
After washing my face with a chill of water, calm down and relax in the night, I went back to a bed where I rolled my tired body without being able to sleep. I wish I could leave at once. I felt the urge to run and slam a door behind me without looking back.
When I finally fell asleep, I dreamed about the house where I live, the night and like lights, where you walk through the rooms like a ghost. I turned the knob on the front door. It was an invader, taking the heat that remained of the night. Sitting on the floor in front of the open door, I'm as good as I am a boy.
My vision was lost in this bank, as if every drop could tell a story.
I woke up from this dream, drenched in sweat. My crumpled sheets revealed that my sleep was not tranquil. I looked out the window to realize that the night was slow to pass. I sat down with severe back pain. At the massage of the shoulders for the members of the bruises in my arms. It looked like he'd had a beating, that pain was so real, he did not know where he got those marks.
I went to take a hot bath to relax my body and forget about it.The water was falling, as if I could feel every drop stoning my back. That's when I heard the sound of the television. Someone had called! As? I was alone in the night, I lived alone! Had he locked the door?
I hear footsteps.
I hear something sharp scratching a wall on the other side.
Who's there?
The silence and my answer. Ousei opens a bathroom door, wearing only the towel. Terror took over when I saw him sitting in front of the TV. White hair, thin, with skin so dirty that malice was white. I was paralyzed praying to all the saints, so that the Rejected does not appear his eyes on me.
"I'm here, Roberto.
I closed my eyes to the list that, somewhere in the dark, I could take refuge. That freak, that madness that surrounded me through the mirror, was now before my eyes. I squeezed my eyelids tight. She felt her breathing coming. My legs would not obey. With each step of the Rejected I was trembling, I felt the blood running still alive by my ways. As the tips of his parched fingers touched my face. I nearly threw up with the rotten, acrid full of his breath.
Pedro, I must confess that I do not remember the following moments. Whenever I try to rescue something, everything comes like lightning that scares and I remember nothing. I am now living in the darkness of this psychiatric clinic, for the Rejected took my eyes and my sanity. I expected to be able to tell someone who experiences the dark side of the world.
Pedro? Are you still there? Do not try to know where he is! He'll take your eyes, Pedro!

Na fila das pedras (ingles vers.)


Devit had been teased a few times that day by a telephone that insisted on ringing and when answering was mute. He had already given up after the fifth call, there was work to be done and he could not delay any more.

They fell from pair to trio, they were thin but rough as the words of Devir. Given this intimate fact, the very young and not-so-ugly man had been relegated to a small house on the outskirts of the city. It was to her liking, the house and the situation. He only saw someone when he needed to go to the market and somebody who was unaware went to his house to order a furniture or arrangement carved in the wood.

Alora, oh fragile Alora! From fragile body to even a breeze the bedding, what really did mess up was his mind, strong and perceptibly deep. As a small-town she was a resident, many people there found Alora strange for having ideas about all things. He liked to spend the days worked to go to the local asylum to visit the elderly and discuss them with respect and wisdom.

Alora, oh fragile Alora!

Joaquim Ciqueira, 80, 79kg, 1,78m ... A small paper attached to the big toe of the body was all the identification that followed him through the corridors of the hospital. He was snorting, he did not want to die even though he had already finished. The cold metal of the table that carried it reflected in sequences between the opaque lights of the corridor until the morgue. If it were Joaquim, I would feel a piece of chicken going into the freezer. But what am I talking about? Dead do not feel!

I feel immensely because of the tragedy. This note followed by a long testimony until. In the opinion of Verner, the door-to-door milk salesman, newspapers serve only vain attempts to wipe off certain physiological havoc and from time to time mark the time.

She smoked on the table in a mug of flandre the warm milk on the cold Thursday morning, so the farm shoes that protected Amanda's cramped feet. The table was plentiful, and even with the poor finish of the house the food there kept everyone well, some more less.

But a guy who slept for a second at the wheel while he was crossing the headlight received the radiator impact of an old but large chevrolet, his documents rolling through the cabin as his body twisted in the middle of the metal, Gaston, 32, not married. She had never married.

The corridor between the benches in the church decorated with all sorts of white flowers with the priest next to the groom and the godparents await the bride, if for a moment she saw his heart, the priest would have eaten much less pig in his life. But no longer matter, five minutes later and were already calling the IML to drag the body, the bodies.

Each lined up drawing more and more dead, on silver tables like a silent and empty orchestra while out there in the cold, the beings weep and thrill with the terrifying silence of life.

Na fila das pedras


Devir fora importunado algumas vezes aquele dia por um telefone que insistia em tocar e ao atender ficar mudo. Já havia desistido de atender apos a quinta ligação, havia um trabalho a ser feito e que já não podia mais atrasar.

Caiam de par e em trio, eram finas mas ásperas assim como as palavras de Devir. Dado este fato íntimo, o homem mesmo jovem e não de todo feio acabara relegado a uma casinha nos limites da cidade. Era de seu gosto, a casa e a situação. Apenas via alguém quando volta e meia precisava ir até o mercado ou algum desavisado ir até sua moradia encomendar um móvel ou arranjo esculpido na madeira.

Alora, oh frágil Alora! De corpo frágil até mesmo uma brisa a punha de cama, o que de fato destoava era sua mente, forte e perceptivelmente profunda. Como de cidade pequena era residente, muitas pessoas de lá achavam Alora estranha por ter ideias sobre todas as coisas. Gostava entre os dias trabalhados ir até o asilo local para visitar os idosos e com eles debater com respeito e sabedoria.

Alora, oh frágil Alora!

Joaquim Ciqueira, 80 anos, 79kg, 1,78m... Um pequeno papel preso ao dedão do pé do corpo era toda a identificação que o seguia pelos corredores do hospital. Rumava empurrado, não tinha vontade de morrer mesmo o já tendo consumado. O metal frio da mesa que o levava refletia em sequencias entre as luzes opacas do corredor até o necrotério. Caso fosse Joaquim, me sentiria uma peça de frango indo ao congelador. Mas o que estou falando? Mortos não sentem!

Eu sinto imensamente pelo trágico ocorrido. Esta nota seguia por um depoimento longo até. Na opinião de Verner, o vendedor de leite de porta em porta, jornais servem apenas para tentativas vãs de limpar certos estragos fisiológicos e de vez em quando marcar o tempo.

Fumegava sobre a mesa em uma caneca de flandre o leite morno na manhã fria de Quinta, assim os sapatos também de quinta que mantinham protegidos os pés calejados de Amanda. A mesa era farta e mesmo com o pobre acabamento da casa os alimentos ali postos mantinham todos bem, uns mais outros menos.

Menos um sujeito que dormiu por um segundo ao volante que ao cruzar o farol recebeu em sua janela o impacto do radiador de um velho mas grande chevrolet, seus documentos rolaram pela cabine enquanto seu corpo se retorcia em meio ao metal, Gastão, 32 anos, solteiro. Nunca se casara.

O corredor entre os bancos na igreja enfeitados com toda sorte de flores brancas com o padre junto ao noivo e os padrinhos aguardam a noiva, se por um instante visse seu coração, o sacerdote teria comido bem menos porco na vida. Mas já não importa, cinco minutos depois e já estavam chamando o IML para arrastar o corpo, os corpos.

Cada um enfileirado atraindo mais e mais mortos, sobre mesas prata como uma orquestra silenciosa e vazia enquanto lá fora em meio ao frio, os entes choram e se emocionam com o silencio aterrador da vida.

A Primeira Luz (ingles vers.)

By Dan Cilva 

It was night when it all happened. 
I was welcomed between the covers, sleeping asleep. 

Tedy, like any stuffed animal, 
has the mission of protecting children of all ages all over the world, 

against terrible nightmares and monsters in the closet and under the bed. 
Such a creature was my teddy bear, given to me, 
by my father when I was born. 

To every corner of the house I and Tedy were going 
to have great adventures in our imaginary little world. 
Tonight would be no different. At dawn, 
the wind whistled against the window and 
unrolled it on the roof of the house, 
the shadow of the windbreaker taking shape against the wall. 

Like a trail of tar, it slipped, crawled, writhing and stretching, 
halting sinuously over the thick blanket that kept me warm. 
The plush animal watched oddly, 
every movement of the shadow across the bed. 

There was a flash of lightning and 
the creature made of shadow and fear, 
now bursting into the air like a blur that never existed. 
When I tried to tell my parents the next morning, 
they told me that it was all a pretty dream and that I should watch less television before bed. 

Months passed and I found myself surrounded by 
presents and a cake that indicated my age. 
Twelve years of healthy childhood and 
no worries greater than the gifts I would win the next Christmas. 

Too tired to play with cousins ​​and school friends, 
all very excited about the new video game, 
I fell asleep on the couch. 

When I woke up, I was already under the covers 
but Tedy was not there. 

He walked like his eyes all over the room. 
As if I lack the air, despair was taking place. 
I ran to the window with the repulsive idea 
that Mom had thrown Tedy in the trash and that without him, 
I was now an adult. 

I felt the chill take over my being and 
the shadow lay his icy and rough hands on my shoulders and 
drag me into the darkness. 

Today I'm in my nephew's room, 
it's night and I can only drag myself to him now. 

I need help, without my angel, 
I became what I feared most. 

Now I vague between existences, 

in search of a last light.

O Monstro (ingles vers.)

By Dan Cilva 

It burned a lot... the nails in my arms, in my hands. 
I remember between breaths the moment 
that I was dragged through the streets By half a dozen priests. 

The voices whine in the background 
With hate speech "kill the monster!" 

I'm the monster... 

In those days when my world was clothed with blood and 
Desire for blood, where my parents were taken from this world 
By the hands of my grandfather. 

All I wanted was to find him and 
That's what made me wander 
from war to war behind Vitorius. 

My vision is lost in the darkness and I see people in it, 
I hear these same people in their misshapen grunts. 

I'm tired, it's empty inside. 
There's too much room for all this anger in here. 

I can not feel the tips of my fingers... 

I lowered my head with the weight of my reverie. 
Something crawled through the rocks, 
She could feel his breath catching. 
I was tired and I saw all sorts of 
terrible images Hovering in my mind, 
and among these journeys there was one Ended up 
repeating itself for an eternity of time. 

They were walking in their long white robes and 
In their hands they carried candles. 
His ghostly features hung in obscure corridors 
Flanked by pictures and vast silverware, 
seemed to be looking for something. 

I heard a heavy sound of wood breaking through the darkness. 
One of them disappeared and 
the others were walking faster now desperate. 

You could hear the word "monster" whispered 
in the middle of the night.

O Monstro


Ardia muito... os pregos em meus braços, em minhas mãos. 
Lembro entre respiros o momento que eu fui arrastado pelas ruas 
por meia dúzia de sacerdotes. As vozes zuniam ao fundo 
com discursos de ódio "matem o monstro!".

Eu sou o monstro...

Naqueles dias em que meu mundo se revestiu de sangue e 
desejo por sangue, onde meus pais foram tirados deste mundo 
pelas mãos de meu avô. Tudo o que eu queria era encontra-lo e 
foi isso que me fez vagar de guerra em guerra atrás de Vitorius. 

Minha visão se perde em meio a escuridão e nela vejo pessoas, 
ouço essas mesmas pessoas em seus grunhidos disformes. 
Estou cansado, é vazio aqui dentro. 
Tem espaço demais para toda essa ira aqui dentro.

Não sinto as pontas dos meus dedos...

Baixei minha cabeça com o peso dos meus devaneios. 
Algo se arrastou por entre as pedras, 
era possível sentir sua respiração ofegante.

Eu estava cansado e via toda sorte de imagens terríveis 
pairando em minha mente e dentre estas viagens havia uma que 
acabou se repetindo por uma eternidade de tempo.

Eles estavam andando com seus longos trajes brancos e 
em suas mãos levavam velas acesas. 
Suas feições fantasmagóricas pairavam por corredores obscuros 
ladeados por quadros e vasta prataria, pareciam procurar algo. 
Escutei um som pesado de madeira rompendo a escuridão.

Um deles sumiu e os outros andavam mais rápido agora desesperados.
Era possível ouvir a palavra "monstro" sussurrada no meio da noite.