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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Algo Original (parte 1)

 Era uma coisinha assim de pernas finas e de rosto corado.

Quando todos aqueles homens e mulheres a encontraram na velha casa dos Casgatori, estava encharcada de vinho e de lágrimas. Os policiais não perceberam os apêndices encrustados no teto da sala de jantar, a luz estava propositalmente baixa, o suficiente para que não encontrassem de imediato o torso dentro do belo aquário na sala de estar e nem mesmo com o odor nauseabundo vindo das instalações abaixo da grande construção. 

A garota depois de muitas horas em silencio, já resguardada na delegacia, deixou escapar seu nome; Dáliah. "Mamãe disse que o "h" é para me destacar das outras flores". 

A equipe forense chegaria apenas de manhã e a ordem era para não mexer em nada até lá, mas as coisas que aquelas paredes viram jamais poderiam ser contadas por língua mortal. 

As vozes abafadas pelas finas paredes que separavam os escritórios da grande delegacia, com suas janelas embaçadas propositalmente e seus velhos sofás de couro preto gasto, em um destes cantos como num jogo de esconder estava uma criança de não mais que 12 anos. Algumas policiais que conversaram com ela fizeram o possível para acalma-la e pô-la para dormir, era um caso problemático pois apenas ela foi encontrada viva no local. 

O erro dentro do erro foi como passaram a chamar o caso, nada fazia sentido e qualquer que fosse a história deslizava entre os dedos como o tempo em uma ampulheta contando seus grãos de areia que se perdem na roda da fortuna.



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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Eu não me lembro IV

Por Daniel Cilva

Era de manhã quando atravessei o portão de aço retorcido envolto em densa vinha. O céu azul manchado de branco com nuvens aqui e acolá derrubava sobre as árvores uma brisa fresca. Cada passo firme meu rente ao solo deixava certo que minha memoria fragmentada ainda detinha as respostas do que deveria ter feito e partes do que houve com meu corpo. Este corpo que peguei emprestado para cumprir tal macabra tarefa. 
Seguindo pela calçada de pedras entalhadas de espadas e flores, não muito longe era possível contemplar a assombrosa arquitetura clássica de uma mansão erguida ao céu com suas pontudas torres laterais e a quantidade desconcertante de janelas. De frente a grande porta de velha madeira há um antigo chafariz desativado pelo tempo com o que parece ser uma sequencia de banheiras para pássaros. Deste ponto ainda era possível ouvir o som das copas das árvores da longa floresta de onde saí e onde se encontra encrustada a casa de Agatha, a vidente que me acolheu e destrancou-me o baú das memorias, agora resta-me montar as peças para concluir minha vinda.
Lembro de um portal, mais velho que o tempo... lembro de corredores brancos e de alguém falando comigo. Este alguém me entregava um pequeno cofre de madeira lacrado em suas bordas com placas de aço trabalhado por alquimistas. As memorias vinham e eu seguia para a porta da mansão em direção a maçaneta. Toca-la foi como levar um tiro. Algo em mim queimou por dentro e como se atropelado fui arremessado ao ar batendo forte as costas ao chão. A pele em minha mão avermelhou ao tom de sangue e cresceram bolhas na palma onde toquei na peça de metal. Quase que instintivamente lancei um gesto ao ar estendendo a palma como se pudesse agarrar a porta e como um todo, luz se projetou dos meus olhos e boca enquanto uma voz que não era minha pronunciou sons indescritíveis aqui, um relâmpago rasgou o ar e após a luz conectar por um instante minha mão a porta, veio a explosão de ar e madeira lascada e um gigantesco estrondo que poderia ser ouvido do outro lado dos quilométricos campos onde jaz este imenso mausoléu amaldiçoado.
Emergi em meio a densidade de poeira e penetrei a escuridão. Algo naquilo tudo estava me deixando irritado e desta irritação veio a coragem até mesmo para derrubar em uma briga de bar até um deus menor.
O interior da degradação ali erguida era uma prova de que o tempo tudo devora e junto com ele traz seus filhos arrependimento, soberba e memorias. Meus passos me guiaram pelo salão principal onde toda a grande estrutura era sustentada por gigantescas pilastras trabalhadas em mármore e em seu centro corria até um tipo de grande altar um longo tapete vermelho aveludado com bordas de um dourado ainda bem vivo. O altar também feito no mármore se elevava por dois degraus aproximados e sobre o mesmo havia um pequeno espelho de vidro bem sujo e de bordas afiadas trabalhadas com entalhes prateados. O que quer que eu devesse fazer ali exigia aquele espelho em meu poder. 
Por um momento tentei limpar meu reflexo na manga de minha camisa sem um mínimo sucesso era como se o desgaste estivesse apenas no reflexo e que se eu quisesse desobstruir a visão dele deveria limpar de dentro para fora...
Nada desde que minha jornada começou carrega um pingo de coerência devido a natureza e gravidade de minha ordenança, logo aqui encontro mais uma prova disso. Procurando no reflexo algum canto onde pudesse enxergar algo anormal como a maçaneta da mansão, reparei no grande retrato sobre a lareira atrás do grande altar onde encontrei o espelho.
Do meu ponto de vista o quadro retratava um homem de idade vestindo algo como um traje militar arcaico, alguém como um barão condecorado e de rosto adornado por longa barba branca. No pouco espaço que conseguia ver na superfície suja do espelho identifiquei uma mulher de densa cabeleira negra com seu vestido de gala vermelho, em ambos os casos seus olhos pareciam me fitar culposamente.
Uma ideia correu em minha mente e do mesmo modo me atirei para fora da mansão indo de encontro ao chafariz; procurando o reflexo da seca estrutura, como havia suspeitado, no mundo do espelho este adorno de jardim ainda corria água por suas camadas e num gesto de levar a mão até o fundo seco em meu mundo, vi minha palma se encher na cristalina água do reflexo e esta usei para limpar o espelho por dentro. 
Era possível agora ver os dois portais paralelos ao portão principal da mansão de onde emanavam uma fraca luz azulada. 
Se havia uma certeza depois do esclarecimento ao encontrar a vidente é de que preciso me reencontrar no fundo de minhas memorias e resgatar-me do coração de minhas ilusões. (continua) 

domingo, 17 de março de 2019

A Puta de Tantos Filhos


Honrem A Puta de tantos filhos.
Filhos teus, filisteus desonrosos de teta em teta A mama e sangra, 
mesmo assim, descrente da tua maldade, te recebe aberta e sincera, franca na zona.
Desmentes A Puta, nega o leite que volta e meia na garganta sobe a verdade azeda. 
Azéda a vida de cada filho Da Puta e trava com a treva cada passo de seus irmãos e 
irmãs aos quais nenhum renegado por seus atos sois todos Filhos.

Pelos, filos de cabelos enlaçados nos dedos putos, 
A Puta não nega em nada e nada na sua imundície, na sua imundície, 
na SUA imundície.
A sua...
Vida...
Subvivendo sendo cada dia um dos infinitos Filhos da Puta de algum modo, 
mesmo sem modos ou com toda elegância por vezes vestindo a carapuça ou 
despindo-se dela que volta e volta e revolta cada filho que chora ao te ouvir...

Hoje, já honrou A Puta de tantos filhos?

quarta-feira, 13 de março de 2019

Contagem Agressiva (lado b)

Uma, contagem regressiva de menos dedos, menos dias, 
de mais fatos perdidos no esquecimento.
86 Bilhões de neurônios se bombardeando em relâmpagos, 
100 por segundo no planeta Terra.
5 dedos e uma Palma na cara de um atrevido.
Atrevi então contar os dias de vida, 
dias de mais, 
os anos então, 
tempo de menos.
Calculei então as voltas do nosso globo em torno de nossa estrela.
Nossa! 

Ser humano requer arrogância!
Quiçá um dia ser planta, uma forma mais natural...
Tomamos a natureza das coisas.

Das coisas tornamos escravos.

sábado, 22 de setembro de 2018

Toda mulher é uma bruxa

Por Dan Cilva

Cada mulher neste mundo já foi jogada em algum tipo de fogueira, queimando a margem do mundo dos homens, estes, inaptos e tolos que ao desconhecerem de si contemplam o poder da mulher como uma força da natureza.

Em sua arrogância, tentam dominar esse poder natural.

Cada mulher já foi levada a julgamento popular e condenada ao banimento por suas particularidades.

Cada mulher que já foi repartida de uma discussão onde não tinha voz, foi jogada nas profundezas do lago da ignorância do macho comum.

Toda mulher tem em si uma bruxa, não por serem malditas por aqueles que falam dela mas por todo o encanto que vem do fundo de suas almas. Capazes de controlar as tempestades muitas vezes criadas pelos homens inaptos.

Desculpe a presunção de dizer quem ou o que são as mulheres.